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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Bartolomeu, O Português

-Ave, Maria, gratia plena, Dominus tecum;
benedicta tu in mulieribus, et benedictus fructus ventris tui, Jesus.
Sancta María, Mater Dei, ora pro nobis peccatoribus nunc et in hora mortis nostrae.
Santa Mãe, concedei-me a graça necessária para suceder nesta missão, pois apesar de sermos apenas 30 homens e termos em nosso poder quatro canhões, com a tua bênção guiar-nos-emos à vitória. Amen.-
Bartolomeu, O Português, levantou-se ainda de cabeça baixa. Prezava sempre a força divina, especialmente num caso como este, em que as probabilidades de uma chacina eram elevadas. Claro que isso intimidaria qualquer pirata a quem a fé ou a experiência não fossem importantes. Mas não a ele.
-Meu capitão! Os canhões estão carregados e a postos. Tem a certeza? Ainda vai a tempo, meu Capitão…
-Desistir? Qual rafeiro medroso? Pois Cabo Miguel, deixe-me dizer-lhe uma coisa: Aquele Galeão espanhol transporta mais de 100.000 libras de cacau, e excede os 75.000 escudos. Os seus tripulantes estão armadilhados até aos dentes, mas navega sozinho, pelos mares de Cuba. Assim sendo, não teremos de esperar represálias do resto da armada. Homem, – disse, enquanto lhe dava uma confiante pancada no ombro, que por pouco não o derrubava – vai ganhar uma fortuna hoje. Isso não lhe dá alento?
- Sim, meu Capitão!

Saindo do convés principal, Bartolomeu deu as derradeiras instruções para o saque.
- Capitão! Navio Mercante a Estibordo! Preparar canhões!
Bartolomeu suspendeu ordens. Esperou até o navio se aproximar. Quando se encontravam frente a frente e as tropas inimigas se juntavam na proa, Bartolomeu deu ordens de fogo para criar destabilização antes do combate. Cerca de uma dezena caiu morta. Cinco ficaram feridos. O resto preparou a pólvora e os canhões, mas o barco pirata já se tinha afastado, pondo-se atrás do Galeão. Os piratas assaltaram o navio espanhol pelas traseiras, apanhando-os de surpresa. Muitos morreram logo, vítimas das armas de fogo. Mas o treino de espada deu-lhes uma vantagem apesar de serem apenas 20, depois das mortes. Estes vinte, corajosamente liderados por Bartolomeu, derrotaram a embarcação espanhola e saquearam a totalidade do produto. De uma tripulação de 30 homens, 15 escaparam ilesos. Da tripulação inimiga, sobreviveram alguns escravos, futuros remadores ou isco. É a vida de pirata. Ou se mata, ou se é morto. Ou se escraviza, ou se é escravizado.
O produto deste saque viria a ser vendido aos ingleses a preço de ouro. Com esse ouro, Bartolomeu investiu no seu navio, reforçando-o e artilhando-o. Mas também repôs a tripulação.
Bartolomeu vivia com um objetivo: vingar o seu pai, Nuno Brigas, que morreu na guerra luso-espanhola de 1640-68, a tentar preservar a fresca independência portuguesa. Nasceu em 1645. Ainda garoto, Bartolomeu cresceu com o irmão, Carlos, e com a mãe, uma mulher muito doente. Carlos tentava a custo manter as grandes propriedades, embrenhando-se no comércio colonial. Investiu os bens nesse negócio, mas perdeu quase tudo, pois os cargos políticos estavam vedados e a Nobreza tinha o comércio colonial na mão. Arruinado, deu a própria vida a Deus. E em 1655, a mãe, sozinha e na miséria, entregou o filho que lhe restava a um marinheiro experiente, Rúben Caeiro, velho amigo do seu marido. Bartolomeu não tinha agora nada. As terras que lhe sobravam haviam-lhe sido retiradas pela coroa, pois podiam apenas ser herdadas pelo filho varão, o seu irmão Carlos, devido à Lei Mental, promulgada há cerca de duzentos anos, no tempo de El-Rei D. Duarte, O Eloquente.
Rúben, por respeito ao seu velho camarada, ensinou ao pequeno Barte a arte da navegação e pirataria, como modo de subsistência e glória. Cedo se viria a tornar mais que isso. Era uma forma de se ligar ao seu pai, que o levava a ver o mar em pequeno.
Foi também muito educado em Cristo, pois perante o mar, a ciência apresenta verdades, mas só a fé oferece a esperança.
Bartolomeu aprendeu assim a ser homem. Dominava a arte da espada. Era exímio nas técnicas de navegação e expedito na ciência da cartografia. Com as indicações do seu mestre, viria a escrever “O Código da Pirataria” em 1665, que refletia os profundos valores do corso, e que seria seguido por reputados piratas, como John Philips, Edward Low e Bartholomew Roberts.
Trabalhou depois uns anos à experiência numa tripulação holandesa, sob a alçada do Capitão Edward Spring, que o instruiu nos procedimentos espanhóis das embarcações comerciais, ensinando-o a atacá-las e a saqueá-las. Como pupilo notório, Spring, em 1662 cedeu-lhe um navio conhecido pela sua rapidez e agilidade de manobra, tinha o jovem 17 anos. Foi com tal navio que Bartolomeu deixou a sua pegada pelos mares do Pacífico.
Assim, O Português, como viria a ser chamado, praticou o corso, pela Jamaica, Cuba, e chegou a ser capturado e sentenciado à morte no México. No entanto, o seu prestígio como pirata e a sua autoria no Código dos Piratas fez com que alguns camaradas seus se juntassem para o ajudar a escapar. Apoderou-se de várias embarcações, até naufragar em Cuba, em 1667.
Ferido, pôs de lado o saque de embarcações espanholas e pôs-se ao serviço da Coroa Inglesa, compensava financeiramente os piratas. Assim, movido pelo ouro, Bartolomeu participou na Guerra Anglo-Holandesa. De facto, se não fosse pelo seu completo desinteresse no assunto, torceria pela Holanda, pois Inglaterra, ao proibir a entrada de produtos de terras que não pertençam ao país de origem, causou um rombo na economia da Holanda, desrespeitando muitas questões de lealdade entre nações. Mas é como lhes dizia: Bartolomeu não se interessava. Esperava apenas poder comprar uma forte embarcação com o dinheiro que arrecadasse para se poder enveredar pelos caminhos do corso novamente.
Em 1672, iniciou-se o 3º período da Guerra pela hegemonia económica e pelo imperialismo político. E na frente da batalha, liderava Bartolomeu, O Português. Temido pelos espanhóis, respeitado e venerado por piratas de outros reinos. O Grande Navegador, que escreveu a lealdade da pirataria num livro sagrado.
Este cristão ferrenho, lutou com afinco contra os holandeses, criando estratégias de ataque, comandando quem outrora fora seu mestre, protegendo as colónias de Inglaterra e atacando a armada Holandesa. Nunca ficava na retaguarda. Não deixava que os seus homens lutassem sozinhos. Avançava, altivo, personificando o orgulho português. De espada em riste, avançava fugazmente, como uma sombra, desferindo golpes mortais. O seu exército era mortífero, e quando comandou com Steuart Waks, outro pirata de renome, ganhou tal fama e vitórias que foi largamente recompensado pela rainha de Inglaterra Catarina em 1674, aquando do final da guerra. Bartolomeu havia cumprido a sua missão: Inglaterra alargou o seu império colonial, deixando a Holanda fragilizada após sucessivos ataques e derrotas.
Passou um ano a repousar do esforço de guerra, durante o qual regressou à pátria, em segredo, pois Portugal desprezava e renegava os seus corsários e piratas. Uma tarde, depois de assistir à sua missa diária, recebeu uma carta de Rúben Caeiro. Este advertia cautela a Bartolomeu, pois os portugueses, que haviam traído o seu pai na guerra de Restauração da Independência, preparavam a sua morte. Bartolomeu Brigas, vítima de condenações, naufrágios, feridas e infeções da guerra, e aos quais sobreviveu incansavelmente, deu por si perdido. O pai não morrera ingloriamente às mãos dos espanhóis. Tinha sido morto pelos seus, quando estava de guarda! Afinal, aqueles a quem roubara toda a vida estavam isentos de toda a culpa que Bartolomeu lhes atribuíra. O Português levantou o seu navio “Lealdade” do estaleiro, navegou até à costa da Jamaica e atirou-se à maré, onde tinha deixado tantos outros. Em 1675.

Inês Isabel Cristiano Brigas, nº10, 11ºE

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